Peça Prático-Profissional: O Partido Político "Z", que possui apenas três representantes na Câmara dos Deputados, por entender presente a
violação de regras da CRFB, o procura para que, na qualidade de advogado especialista em Direito Constitucional,
se posicione sobre a possibilidade de ser obtida alguma medida judicial em face da Lei Estadual "Y", de janeiro de
2015, que contém 3 (três) artigos.
De acordo com a exposição de motivos do projeto que culminou na Lei Estadual “Y”, o seu objetivo é criar, no
âmbito estadual, ambiente propício às discussões políticas de âmbito nacional, e, para alcançar esse objetivo,
estabelece, em sua parte dispositiva, novas regras eleitorais, sendo estabelecidas, em seu artigo 1º, regras
temporais sobre a criação de partidos políticos; em seu artigo 2º fica retirada a autorização para que partidos
políticos com menos de cinco Deputados Federais possam ter acesso gratuito ao rádio e à televisão na
circunscrição do Estado; e, por fim, em seu artigo 3º fica estabelecida a vigência imediata da referida legislação.
Elabore a peça adequada, considerando a narrativa acima. (Valor: 5,00)
Gabarito Comentado pela FGV:
ADIN: O examinando deverá elaborar uma petição inicial de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Lei nº 9868/1999).
A petição deve ser direcionada ao Presidente do Supremo Tribunal Federal.
A ação deve ser ajuizada pelo Partido Político “Z”, representado pelo presidente de sua Comissão Executiva
Nacional.
A legitimidade ativa decorre do fato de o Partido Político “Z” possuir representação no Congresso Nacional.
O examinando deverá argumentar que a Lei Estadual “Y” afronta o disposto no Art. 22, I e IV, da Constituição da
República Federativa do Brasil [Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial,
penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho (...) IV - águas, energia,
informática, telecomunicações e radiodifusão; (grifos)].
Em relação à inconstitucionalidade material, o examinando deverá demonstrar a afronta ao princípio da
proporcionalidade ou razoabilidade, como também ao Art. 1º, V (pluralismo político) e ao Art. 17, caput e § 3º, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [(Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, (...) § 3º Os
partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da
lei (grifos)].
Deve ser pedida a medida cautelar, de modo a suspender a eficácia da Lei até que seja definitivamente julgada a
presente Ação Direta de Inconstitucionalidade. O examinando deve demonstrar que a tutela jurisdicional cautelar
se faz necessária, pois estão suficientemente demonstrados os requisitos do fumus boni iuris, pela clareza dos
vícios de inconstitucionalidade apontados, e do periculum in mora, isso em razão do constrangimento decorrente
do impedimento ao exercício de atividade lícita e constitucional dos partidos políticos.
Deve ser formulado o pedido de declaração de inconstitucionalidade da Lei Estadual “Y”.
Devem ser solicitadas informações ao Governador e à Assembleia Legislativa do Estado, órgãos responsáveis pela
edição do ato normativo e ouvidos o Advogado Geral da União e o Procurador Geral da República.
A petição deve ser datada e assinada pelo advogado.
PARECER: O examinando deverá elaborar um parecer com o objetivo de responder à consulta formulada.
O parecer deve possuir uma ementa que contenha as palavras chaves relacionadas à temática abordada.
O relatório do parecer deve descrever a consulta formulada e a indicação do respectivo consulente.
Na fundamentação do parecer, o examinando deve sustentar, em primeiro lugar, a inconstitucionalidade da Lei Estadual “Y”.
Deve argumentar que a Lei Estadual “Y” afronta o disposto no Art. 22, I e IV, da Constituição da República Federativa do
Brasil [Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho (...) IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (grifos)],
logo, padece de inconstitucionalidade formal. Em relação à inconstitucionalidade material, o examinando deverá demonstrar
a afronta ao princípio da proporcionalidade ou razoabilidade, como também ao Art. 1º, V (pluralismo político) e ao Art. 17,
caput e § 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [(Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e
extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, (...) § 3º Os
partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei
(grifos)].
Ainda na fundamentação, o examinando deve posicionar-se sobre o cabimento da ação direta de inconstitucionalidade para
a realização do controle concentrado de constitucionalidade da Lei Estadual “Y”, que deve ser ajuizada perante o Supremo
Tribunal Federal. Deve ser igualmente ressaltada a legitimidade ativa do Partido Político “Z”, representado pelo presidente
de sua Comissão Executiva Nacional, por possuir representação no Congresso Nacional, tal qual dispõe o Art. 103, VIII, da
Constituição da República Federativa do Brasil e o Art. 2º, VIII, da Lei nº 9.868 ,de 1999.
Por fim, a fundamentação deve expor o cabimento da medida cautelar, de modo a suspender a eficácia da Lei até que seja
definitivamente julgada a ação direta de inconstitucionalidade. O examinando deve demonstrar que a tutela jurisdicional
cautelar se faz necessária, pois estão suficientemente demonstrados os requisitos do fumus boni iuris, pela clareza dos vícios
de inconstitucionalidade apontados, e do periculum in mora, isso em razão do constrangimento decorrente do impedimento
ao exercício de atividade lícita e constitucional dos partidos políticos.
Na conclusão do parecer, o examinando deve sustentar a inconstitucionalidade da Lei Estadual “Y” e a possibilidade de ser
ajuizada a ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, inclusive com a formulação do
requerimento de media cautelar.
O parecer deve ser datado e assinado pelo advogado, com indicação de sua inscrição na OAB.
QUESTÃO 1: O Congresso Nacional autorizou o Presidente da República a normatizar, por via de lei delegada, na sua forma típica
ou própria (sem necessidade de posterior aprovação pelo Congresso), matéria que trata de incentivo ao parque
industrial brasileiro. Ocorre, porém, que o Chefe do Poder Executivo, ao elaborar o diploma normativo, exorbitou
dos poderes a ele conferidos, deixando de respeitar os limites estabelecidos pelo Congresso Nacional, por via de
Resolução.
A partir dessa narrativa, responda aos itens a seguir.
A) No caso em tela, o aperfeiçoamento do ato de delegação, com a publicação da Resolução, retira do Congresso
Nacional o direito de controlar, inclusive constitucionalmente, o conteúdo da Lei Delegada editada pelo
Presidente da República? Justifique. (Valor: 0,75)
B) Caso a Resolução estabelecesse a necessidade de apreciação do projeto pelo Congresso Nacional (delegação
atípica ou imprópria), poderia a Casa legislativa alterar o texto elaborado pelo Presidente da República?
Justifique. (Valor: 0,50)
Obs.: Sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção ao dispositivo legal não será pontuada.
Gabarito Comentado pela FGV: A) Não. Com base no que dispõe o inciso V do Art. 49 da Constituição Federal, é de competência exclusiva do
Congresso Nacional (o poder delegante) sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem os
limites da delegação legislativa. Trata-se de verdadeiro controle político e de constitucionalidade, na
modalidade repressiva, exercido pelo Poder Legislativo.
B) Não, nos termos do Art. 68, § 3º, da Constituição Federal. Ao deliberar sobre o projeto, ou o Congresso
Nacional o aprova integralmente ou o rejeita em sua totalidade, sendo vedada qualquer emenda.
QUESTÃO 2: Leonardo, dirigente da tradicional Agremiação X, desconfiado de que o regulamento do campeonato estadual de
remo do Estado E estaria beneficiando uma agremiação em detrimento das demais - em completa violação ao
princípio da igualdade -, busca auxílio jurídico. Preocupado, porém, em reduzir o tempo de disputa jurídica, Leonardo
sugere ao Advogado da Agremiação X que ajuíze ação perante a Justiça comum, sem acionar as instâncias
desportivas. Na condição de estudante de Direito, Leonardo fundamentou sua sugestão no princípio da
inafastabilidade da jurisdição, nos termos do que indica o Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.
Diante do caso acima narrado, responda aos itens a seguir.
A) O encaminhamento sugerido por Leonardo deve ser seguido pelo Advogado da Agremiação X? (Valor: 0,65)
B) A denominada justiça desportiva profere decisões judiciais? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: Sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção ao dispositivo legal não será pontuada.
Gabarito comentado pela FGV: A) Não, pois, apesar do Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal ter previsto que “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, no caso, a própria ordem constitucional exige do
jurisdicionado a comprovação de exaurimento na esfera administrativa antes de se dirigir ao Poder Judiciário
(Art. 217, § 1º, da Constituição Federal). Nesse sentido: "No inciso XXXV do Art. 5º, previu-se que ‘a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito’. (...) O próprio legislador constituinte de
1988 limitou a condição de ter-se o exaurimento da fase administrativa, para chegar-se à formalização de
pleito no Judiciário. Fê-lo no tocante ao desporto, (...) no Art. 217, § 1º, (...). Vale dizer que, sob o ângulo
constitucional, o livre acesso ao Judiciário sofre uma mitigação e, aí, consubstanciando o preceito respectivo
de exceção, cabe tão só o empréstimo de interpretação estrita. Destarte, a necessidade de esgotamento da
fase administrativa está jungida ao desporto e, mesmo assim, tratando-se de controvérsia a envolver
disciplina e competições, sendo que a chamada justiça desportiva há de atuar dentro do prazo máximo de
sessenta dias, contados da formalização do processo, proferindo, então, decisão final ¬– § 2º do Art. 217 da
CF”. (ADI 2.139-MC e ADI 2.160-MC, voto do Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgamento em 13-5-2009,
Plenário, DJE de 23-10-2009.)
B) Não. A estrutura do Poder Judiciário brasileiro é aquela estabelecida na Constituição Federal, mais
especificamente a partir do Art. 92. As decisões da Justiça desportiva possuem natureza meramente
“administrativa”, não jurisdicional.
QUESTÃO 3: A Medida Provisória Z (MP Z), editada pelo Governador do Estado H com o propósito de diminuir o alto grau de
evasão escolar, regulou a concessão de bolsas escolares a alunos carentes matriculados em escolas públicas
estaduais. Em virtude de crise política que surgiu entre o Executivo e o Legislativo, a referida Medida Provisória não
foi convertida em lei. Ultrapassado o prazo de 60 dias, a Casa Legislativa não disciplinou as relações jurídicas surgidas
no período em que a MP Z vigorou. João, que se beneficiou por três meses da referida bolsa, apreensivo, relatou a
Carlos, um amigo, servidor da Assembleia Legislativa, que teme ter de devolver a totalidade do valor recebido. Carlos
tranquilizou-o e informou-lhe que a crise política fora debelada, de modo que a Assembleia apenas aguarda a
reedição da Medida Provisória, a fim de convertê-la em lei, ainda no mesmo ano legislativo em que a MP Z perdeu a
eficácia.
Considerando que a Constituição do Estado H regulou o processo legislativo em absoluta simetria com o modelo
usado pela Constituição Federal, responda aos itens a seguir.
A) João terá de devolver aos cofres públicos o dinheiro recebido a título da bolsa? Fundamente. (Valor: 0,75)
B) A informação passada por Carlos a João encontra-se em harmonia com a sistemática constitucional? Justifique.
(Valor: 0,50)
Obs.: Sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção ao dispositivo legal não será pontuada.
Gabarito comentado pela FGV: A) Não. João não precisará devolver o valor recebido a título de bolsa, já que, conforme informado na questão, a
não edição de decreto legislativo que regulamentasse as relações jurídicas estabelecidas pela MP Z, no prazo
de sessenta dias após a perda de sua eficácia, acabou por implicar o reconhecimento dos efeitos jurídicos
produzidos no período em que a MP esteve vigente, nos termos do que informa o Art. 62, § 11, da CF.
B) Não, pois, no caso em referência, tendo a medida provisória perdido sua eficácia, vedada seria sua reedição na
mesma sessão legislativa, nos termos do que informa o Art. 62, § 10, da Constituição Federal.
QUESTÃO 4: Aprovado apenas pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, assim como
no âmbito da mesma Comissão em razão dessa matéria do Senado Federal, determinado projeto de lei, que versava
sobre política externa brasileira, foi levado à apreciação do Presidente da República, que resolveu vetá-lo, ao
argumento de que nenhum projeto de lei pode ser aprovado sem a respectiva votação do Plenário de cada uma das
casas legislativas.
Diante do relato acima, responda aos itens a seguir.
A) O veto apresentado pelo Chefe do Executivo encontra amparo constitucional? (Valor: 0,65)
B) É correto afirmar que, de acordo com o processo legislativo brasileiro, o veto do Presidente da República deve
ser apreciado pela Casa Inicial e revisto pela Casa Revisora, dentro do prazo de quarenta e cinco dias, a contar
do seu recebimento? (Valor: 0,60)
Obs.: Sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção ao dispositivo legal não será pontuada.
Gabarito comentado pela FGV:A) Não. De acordo com o Art. 58, § 2º, I, da Constituição Federal, há projetos de lei que podem ser discutidos e
votados apenas no âmbito das comissões constituídas, em razão da matéria de sua competência, na forma
do Regimento Interno da Casa Legislativa, sem a necessidade de apreciação pelo Plenário, desde que não
haja recurso de um décimo dos membros da respectiva Casa. Portanto, o veto do Presidente da República
não encontra amparo constitucional. Nesse sentido, é constitucionalmente possível que a Comissão de
Relações Exteriores e de Defesa Nacional aprove um projeto de lei que verse sobre a política externa
brasileira (matéria da competência da referida Comissão) sem a necessidade de passar pelo Plenário da Casa,
desde que não haja oposição de um décimo dos seus membros. Portanto, é o próprio texto constitucional
que admite a possibilidade de se afastar a incidência do princípio da reserva de plenário, atribuindo às
Comissões, em razão da matéria de sua competência, a prerrogativa de discutir, votar e decidir as
proposições legislativas.
B) Não. De acordo com o Art. 66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será apreciado em sessão conjunta,
dentro do prazo de trinta dias a contar do seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria
absoluta dos Deputados e Senadores. Esgotado o prazo de trinta dias, o veto será colocado na ordem do dia
da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até a sua votação final.
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Leandro Passos